Como definir os critérios de aceitação para pesos padrão  

critérios de aceitação para pesos padrão
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Em ambientes industriais e laboratoriais onde a exatidão das medições é fator crítico, os pesos padrão são elementos essenciais para a rastreabilidade metrológica. No entanto, tão importante quanto realizar a calibração periódica desses padrões é avaliar corretamente os resultados dessa calibração, adotando critérios técnicos que sustentem a confiabilidade das medições no seu processo.

Neste artigo, você entenderá por que o Erro Máximo Admissível (EMA) não deve ser o único critério utilizado, como interpretar o erro e a incerteza informados nos certificados, e quais práticas ajudam a manter a rastreabilidade e a conformidade metrológica no uso de pesos padrão.

Por que você não deve usar apenas o erro máximo admissível (EMA) como critério  

É comum encontrar empresas e laboratórios que aceitam pesos padrão com base apenas no Erro Máximo Admissível (EMA) da classe de exatidão definida pela OIML R111 ou pela Portaria INMETRO nº 289. Embora essa referência seja válida no contexto legal e para classificação dos pesos, ela não é suficiente quando o objetivo é garantir rastreabilidade, confiabilidade e coerência metrológica.

O problema é que o EMA não considera a incerteza de medição associada ao resultado de calibração. Ou seja, um peso pode estar “dentro do EMA”, mas apresentar uma incerteza tão elevada que compromete a sua função no processo de medição.

Além disso, o EMA representa o limite máximo de erro admissível para aquela classe, e não necessariamente o limite adequado para seu processo. Em processos críticos, como em laboratórios farmacêuticos ou controle de qualidade com tolerâncias apertadas, trabalhar com valores próximos ao EMA pode ser um risco operacional.


Quais critérios realmente devem ser considerados  

1. Incerteza de medição após a calibração  

Ao analisar o certificado de calibração de um peso padrão, a incerteza informada deve ser igual ou inferior à incerteza anteriormente aceita para aquele padrão. Caso a incerteza aumente de forma significativa, mesmo que o erro esteja dentro do EMA, o peso pode não ser mais adequado para a aplicação atual.

2. Erro em relação ao valor nominal  

O erro informado na calibração deve ser comparado com os limites definidos internamente para a aplicação do peso. Em geral, recomenda-se adotar um critério mais restritivo que o EMA, por exemplo:

  • Aceitar pesos com erro + incerteza ≤ X% do EMA;
  • Adotar limites próprios definidos com base na resolução da balança ou exigência do processo.

3. Histórico do peso padrão  

A avaliação do comportamento histórico do peso ao longo das calibrações é fundamental. Pesos que apresentam variações crescentes de erro ou incerteza a cada calibração indicam perda de estabilidade, sendo recomendável substituição ou descarte.

Registrar e acompanhar os dados de calibração ao longo do tempo permite decisões mais seguras e consistentes.

4. Aplicação e exigência do processo  

Pesos utilizados em processos de alto rigor, como calibração de balanças analítica, exigem critérios mais rígidos. Já pesos usados em aplicações menos críticas podem tolerar incertezas um pouco maiores — desde que haja justificativa técnica documentada.

Como definir os critérios de aceitação passo a passo  

A seguir, um guia prático para estruturar os critérios de aceitação de forma técnica:

Passo 1: Analise o uso real do peso no processo  

Entenda o nível de exigência da aplicação: o peso será usado para calibrar balanças analíticas? Verificar instrumentos no chão de fábrica? Ajustar padrões secundários? Quanto mais crítica a função, mais rigoroso deve ser o critério.

Passo 2: Estabeleça o limite máximo de incerteza admissível  

Com base na resolução da balança, nas tolerâncias do processo e na classe de exatidão necessária, determine qual é a incerteza máxima aceitável. Lembre-se: a incerteza precisa ser significativamente menor que a tolerância do processo.

Passo 3: Avalie o erro e a incerteza no certificado de calibração  

Verifique se o erro e a incerteza estão dentro dos limites que você definiu. Compare com o histórico anterior. Um aumento de incerteza pode ser aceitável — desde que não ultrapasse o limite definido.

Passo 4: Documente e comunique os critérios  

Formalize seus critérios no sistema da qualidade. Eles devem ser conhecidos por quem recebe os certificados, por quem aprova a utilização do peso e também pelo laboratório de calibração contratado.

Passo 5: Revise os critérios periodicamente  

Processos mudam, normas evoluem e os pesos se degradam. Reavalie seus critérios sempre que houver mudanças significativas nos processos de medição, requisitos normativos ou após identificação de desvios.


Como comunicar os critérios ao laboratório de calibração  

De acordo com a norma ISO/IEC 17025:2017 (item 6.6.3.b), a empresa contratante deve especificar quaisquer critérios técnicos relevantes ao provedor externo, como o laboratório de calibração.

Ou seja, você deve informar ao laboratório qual é a incerteza máxima admissível para que o peso continue sendo utilizado na sua rotina. Caso contrário, o laboratório poderá adotar critérios genéricos, que nem sempre são compatíveis com suas necessidades.

Exemplo prático de análise de certificado  

Imagine um peso de 100 g, classe F1. Em uma calibração anterior, ele apresentava:

  • Erro: 0,20 mg
  • Incerteza: 0,10 mg

Na calibração atual, retornou com:

  • Erro: 0,15 mg
  • Incerteza: 0,18 mg

Embora o erro ainda esteja dentro do EMA da classe F1 (±0,5 mg), houve um aumento considerável na incerteza. Isso pode afetar o processo, especialmente se esse peso for utilizado como padrão para calibração de balanças analíticas ou de outros pesos.

Neste caso, a recomendação é avaliar se essa nova incerteza ainda atende ao critério interno definido. Se ultrapassar o limite, o peso deve ser descartado ou rebaixado de categoria para aplicações menos críticas.

Conclusão  

Definir critérios de aceitação para pesos padrão é uma prática essencial para garantir a confiabilidade metrológica do seu processo. Utilizar apenas o EMA como parâmetro é um erro comum, mas que pode ser evitado com a adoção de critérios baseados em:

  • Incerteza de medição,
  • Histórico do padrão,
  • Exigência do processo,
  • E capacidade de medição necessária.

Essa abordagem ajuda sua empresa a evitar decisões incorretas, manter a rastreabilidade e estar sempre preparada para auditorias e exigências normativas.

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